sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Um relato da produção de set...

Muitos "Ah, já ajudamos demais esse mês, sabe como é neh, é o das crianças..." e "Deixa seu telefone e proposta que eu te retorno, querida, é pra um filme, neh?" ouvi numa manhã em que fazia um sol de lascar e às vezes chuviscava (??!nunca vou entender o clima de Campinas...); depois de uma manhã inteira parecia que os "nãos" tinham sugado minha alma... foi uma correria para conseguir patrocínio de alimentação para os 4 dias de gravação do “Haller” (aprox. 20 pessoas, dentre atores e equipe, todos os dias). Graças a Deus, não foi somente uma manhã, e os "sims" começaram a brotar, SUGERINDO que, pedindo muitos apoios e negociando bastaaaante, conseguiríamos almoço e lanche para todos.

Outra sugestão: alguns apoiadores estão desiludidos. Sim, não confiam em universitários que pedem ajuda enquanto precisam produzir, e que quando conseguem, somem. Sequer mostram o produto final ao patrocinador ou a sua marca num cartaz de divulgação... prometem inscrever o projeto em vários espaços e mostras – visibilidade dentre outros alunos da Unicamp e o público das redondezas – no entanto, muitas vezes estão preocupados somente com a nota da disciplina (do curso) que os motivou. Mesmo.


O Haller desde o começo foi diferente: trabalhamos todos os dias em mais algum detalhe de produção, acreditamos na idéia e queremos que ela ACONTEÇA em todas as telas, festivais, mostras, cartazes, eventos, conversas no bandejão...

Atrevendo-se a carregar um projeto extracurricular, assumimos o peso de uma porção de burocracias extra, e também a necessidade de pedir apoio "a torto e a direito" e de “vender a alma”, se preciso!

Com a coragem de divulgar sua imagem por toda a universidade enquanto ele ainda engatinhava, de mobilizar atores, amigos, familiares, artistas e entusiastas (!!!) tentamos realizar uma festa para conseguir grana para o curta... a festa não aconteceu, mas o tanto de gente que ouviu falar nesse tal de "Haller", que se interessou pelo roteiro e que passou a torcer para que ele seja gravado só cresceu... independentemente (e às vezes em razão) da ação do ministério público!

O curta decidiu se expor, ele rasgou a “bolha”, porque parecia o melhor jeito de captar recursos... quando isso acontece mais gente aponta os erros e o caminho fica mais claro pra quem quer nos quer prejudicar ou favorecer outros interesses... por outro lado, mais gente aprende com esses erros. Alguns surpreendentemente oferecem uma mão, se mobilizam ou motivam-se a assumir alternativas – sem experiência prévia alguma -, aceitando o desafio, acolhendo o inesperado, só pela POSSIBILIDADE de ter sucesso, e... conseguindo.

Talvez não contássemos com o impacto perigoso (e meio ofuscante...) de se expor, talvez não contássemos com todo o apoio que conseguimos (ou nem tenhamos absorvido o quão isso é bom...) mas aprendemos muito. Sobre os limites de cada um, sobre o comprometimento dessa equipe.

O gerente de um grande restaurante fez questão de me olhar sério, me fazendo prometer que cumpriria a contrapartida. Seria a última chance que ele daria para "esse pessoal do audiovisual que não retorna nada", decidido a não “quebrar a cara” com os sócios novamente...

Ele já acompanha este blog... e não só ele! Amigos de outros cursos me perguntam “Como está o trabalho no Haller? Estão se esforçando bastante, neh? Nem sabia que a Midialogia produzia para as pessoas conhecerem...", por descobrirem, por acaso, que eu estava na lista da equipe.

Os atores passam a ser "azucrinados" mais vezes durante a semana para mais um ensaio, ou uma nova prova de figurino... e a emprestar o carro, desmarcar compromissos, gravar em dia de aniversário, sugerir estratégias de temas pra as festas, gritar “A produção do curta 'Haller' ficou maluca: é mulher gelada, cerveja bonita e homem a R$1,50, é a 'Haller Fest'!” na saída do bandejão, bolar cenas para os "extras" com piadas internas... Intimidade essa, que surge quando a gente SENTE a idéia e não somente o canal por onde ela flue intacta...

E perto das gravações cada detalhe é crucial: a reserva das locações e de equipamento (autorizações!), a organização dos materiais da arte, o estudo minucioso dos horários de chegada dos atores e equipe, bem como da alimentação e transporte para tudo isso!

Há poucos dias parecia um emaranhado imenso de coisas que PRECISAVAM de um jeito mágico para combinarem: cada indisponibilidade acarretava mudanças nos planos...

Horas antes das gravações parece haver um pouco mais de segurança; numa teia cuidadosamente construída por várias mãos e abençoados encontros de possibilidades...


e que venham os próximos 4 dias!



Katharine Diniz

Produção de Set

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