Haller é antes de tudo um olhar sobre uma mudança, uma mudança interior que ocorre todos os dias, uma mudança de ponto de vista sobre o mundo, mas antes de tudo sobre si mesmo.
Cecília tem uma visão nebulosa de si e do mundo, nada se encaixa, nada faz sentido, ela não se vê dentro, mas não conhece nada que esteja de fato fora. O filme trata da mudança de Cecília, da forma como ela passa a enxergar as coisas como de repente tudo se encaixa. O olho do espectador é análogo ao olhar de Cecília, ele se vê dentro quando ela se vê dentro, toda frieza se esvai, e não sobra nada além da cólera de Cecília, de sua visão, de sua cegueira.
Numa história onde o olhar é fundamental, a fotografia se sobressai como algo a ser tratatado com cuidado, afinal o olhar se faz à princípio da luz refletida nos objetos da mesma forma que se desfaz nas sombras. Essa luz e esse objeto são elementos centrais para o veredito final do espectador, é nessa escolha que o olhar é direcionado, onde a parcialidade se escancara... você verá o que eu quero que você veja, o que eu deixo você ver... Mas quem é que não direciona seus holofotes, quem não se esconde na pernumbra? Sob roupas escolhidas, sob o silêncio que pauta as palavras medidas, sob a maquiagem que uniformiza todas as possiveis nuances, as possiveis anormalidades da face... A parcialidade não é condenável, mas deve ser observada, admitida. Admito por meio deste texto a minha visão, a nossa visão, a nossa opinião e a nossa cegueira.
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